Respiração Diafragmático-Abdominal
ou Costo-Diafragmático-Abdominal
A respiração diafragmático-abdominal ou costo-diafragmáticoabdominal,
completa ou total caracteriza-se por uma expansão harmônica de
toda a caixa torácica, sem excessos na região superior ou inferior.
Há o aproveitamento de toda a área pulmonar, e é a respiração
mecanicamente mais eficaz para o desenvolvimento de uma voz profissional.
A respiração total será tão mais profunda quanto maior for a exigência da
produção vocal.
Desta forma, concluímos que uma respiração média ou torácica é
suficiente para o uso habitual da voz e, em verdade, representa o
mecanismo respiratório mais econômico sob o ponto de vista de gasto
energético. Se fizermos uma respiração completa, ou seja, costodiafragmático-
abdominal, a pressão da coluna aérea infraglótica é tão grande
que, a menos que tenhamos um treinamento especial para o controle glótico
(semelhante ao ministrado aos cantores líricos), iremos instalar um regime
glótico hipertônico na tentativa de impedir uma grande saída de ar, exigindo
um trabalho potente da musculatura respiratória para manter a caixa torácica
alargada e elevada, o que também pode se observar pela contração do
músculo esternocleidomastóideo nesses indivíduos. Isto significa que com o
pulmão cheio de ar a fonação mais facilmente produzida terá ataque brusco
e qualidade vocal tensa e comprimida, além de convidar o estabelecimento
de uma fadiga vocal a curto prazo.
Por outro lado, se inspirarmos muito pouco, a laringe também
apresentará um gesto motor hipertônico, procurando aqui reduzir o gasto de
ar durante a fala. Assim, a respiração média é a de menor gasto energético e
muscular, propiciando a melhor qualidade vocal para a fala encadeada, pois
não se realiza nem grande esforço inspiratório e nem expiratório, e a coluna
de ar infraglótica é facilmente contrabalanceada pela firmeza glótica.
Demandas vocais especiais requerem treinamento específico e seleção de
outros ajustes motores.
Esta é, de forma resumida, a visão do processo respiratório com a
qual estamos acostumados a lidar. Existe, porém, um segundo nível de
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análise, onde a respiração é considerada um dos mais importantes
elementos do reflexo da dinâmica emocional de um indivíduo, a pulsação
básica da vida: nascemos para o mundo pela primeira respiração e dele nos
retiramos através do "último suspiro".
Do ponto de vista psicológico, a respiração indica os ritmos da vida
e é o processo mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em
resposta a qualquer estímulo interno ou externo. Assim, a respiração
influencia e é influenciada pelo estado emocional em que nos encontramos;
podemos modificar conscientemente nosso estado físico e mental pela
maneira como respiramos.
Apesar de seu caráter sutil, a respiração pode ser observada como
experiência visível de nossa conexão com a terra.
Quando respiramos superficialmente, experienciamos uma falta de
ligação com o solo, com a qualidade sólida de nosso existência: "vivemos no
ar".
Quando a respiração é calma, profunda, regular e harmônica, nossa
energia aumenta e todo o organismo se equilibra, a mente torna-se lúcida, o
corpo alerta e sensitivo, a audição se mostra mais acurada, as cores mais
vibrantes e a experiência vivencial aprofunda-se (Tulku, 1984 - apud Behlau
e Pontes, 1995).
Somente quando respiramos profundamente é que podemos entrar
em contato com nossos sentimentos e sensações, transformando-os em
palavras. Assim, por exemplo, quando choramos, após várias inspirações e
ampliações forçadas da caixa torácica, acalmando-nos, entendemos por que
brigamos com alguém e somos mais capazes de traduzir em palavras o que
aconteceu.
Várias observações podem ser feitas considerando-se a respiração
quanto à profundidade e ao volume respiratório, à frequência dos ciclos, à
relação entre as duas fases e à relação entre o volume de ar e a qualidade
vocal utilizada. O equilíbrio da dinâmica respiratória expressa integridade da
personalidade, enquanto alterações patológicas desse processo refletem
níveis diversos de fragmentação emocional.
Quando estamos agitados e excitados, nossa respiração torna-se
irregular: um ciclo respiratório curto e rapidamente repetido é a única
possibilidade respiratória nesse momento. Assim, no estado ansioso, não
conseguimos uma sustentação adequada entre a quantidade de ar e a altura
vocal é então muito difícil de ser conseguida.
Pessoas ativas e energéticas apresentam em geral uma respiração
mais profunda, ao passo que pessoas com pouca motivação apresentam um
ciclo respiratório superficial, onde quase não se observam movimentos na
região torácica; indivíduos pacientes e persistentes tendem a um equilíbrio
quase perfeito entre as duas fases do processo, ao passo que pessoas
deprimidas apresentam um decréscimo na frequência respiratória.
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Sabemos que é através de uma respiração completa que tomamos
contato com nossos níveis psicoemocionais mais bloqueados; é fácil
observarmos em nós mesmos, nas situação em que queremos evitar tais
contatos, como reprimimos a movimentação do diafragma, superiorizando e
restringindo o fluxo respiratório.
A inibição da respiração é uma das mais imediatas, primárias e
eficazes reações de defesa. Se entendemos que a respiração é o elemento
de ligação entre o corpo e a mente, somos levados a concluir que ela pode
se tornar um excelente veículo para compreendermos como eles funcionam.
Resumindo, do ponto de vista fisiológico, a função da respiração é
efetuar trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo; do ponto de
vista psicológico, a respiração indica os ritmos da vida, sendo o processo
mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em resposta a
qualquer estímulo externo eu interno.
Daí vale ressaltar o seguinte:
Respiração calma, regular e harmônica - Organismo
equilibrado e mente calma;
_ Fase inspiratória balanceada com fase expiratória -
Indivíduos pacientes e persistentes;
_ Respiração profunda e ritmada - Pessoas ativas e energéticas;
_ Respiração superficial - Falta de ligação com a realidade.