Antes de tudo, é importante que falemos sobre a voz de peito antes de descrevermos a voz de cabeça e o falsete. A voz de peito é a voz que usamos para falar, o seu formante (região de ressonância da voz, ou seja, região onde se "forma" a voz) se encontra justamente na região do peito, por isso o nome voz de peito. Sugiro que coloque uma das mãos sobre a região peitoral e fale alguma coisa como,por exemplo, seu próprio nome. Observe que foi possível sentir o seu peito "vibrar" enquanto você pronunciava seu nome, isso foi você sentindo o formante da voz de peito. No canto esse tipo de recurso, é mais usado no registro grave, médio e numa pequena parcela do registro agudo.
Sabendo disso vamos à uma pequena e leiga aula de Fisiologia dos músculos vocais enquanto esmiuçamos a diferença entre voz de cabeça e falsete. A discussão sobre voz de cabeça e falsete envolve uma pequena consideração sobre fonação vocal. A ressonância tem efeitos em TODAS as áreas do canto, portanto não seria diferente nesse caso, sendo assim as diferenças básicas entre falsete e voz de cabeça são de fonação.
Atualmente a definição de falsete é a de produção do som quando os músculos vocais Tireoaritenóideos (um músculo da laringe por onde passa o ar) não estão ativos e estão intensamente alongados pela ação dos músculos Cricotireóideos, portanto com todo esse ar passando nas cordas vocais e ela totalmente alongada, o som será produzido por esse fluxo aéreo sobre as bordas finas dos Tireoaritenóideos, mas se com o tempo esses músculos tireoaritenóideos começarem a resistir à esse intenso alongamento deles mesmos, eles começarão fornecer resistência sobre a ação dos cricotireóideos e o mecanismo vocal começa a entrar na voz de cabeça.
Cantando, portanto, a sua escolha por uma determinada nota ou trecho ser em determinado registro, ou sub-registro, deve ser guiada pelo que a música pede.
Ainda sobre a escolha de um determinado registro, ou sub-registro (e agora, sim, num panorama extremamente técnico), existem alguns problemas semânticos que nos aprontam verdadeiras armadilhas fisiológicas e acústicas. Explico.
Quando pensamos num som forte, com presença e grande projeção, logo pensamos em voz de peito. O próprio termo, por si só, já é bem pernicioso. O termo voz de peito nos faz querer um som forte e com sensações de ressonância mais próximas do peito. E isso pode minar qualquer performance e, até mesmo, sua afinação. (Pasmem! O peito não é um ressonador de verdade. Falo mais sobre isso n’outro post). Veja bem: projeção se dá pelos fenômenos acústicos de harmônicos e formantes. Os formantes são picos nos harmônicos e eles são modificados de acordo com nosso “manuseio” do trato vocal. Um manuseio preciso e correto do trato vocal nos fará sentir o som (sensação de ressonância) em diferentes regiões do nosso corpo. Quanto mais agudo, mais para cima da nossa cabeça vamos sentir o som. Além disso, fisiologicamente falando, na voz de peito temos a preponderância do músculo TA interno (porção interna do tireoaritenóideo) sobre o CT (cricotireóideo) para a tensão das pregas vocais. O TA interno, além de encurtar as pregas vocais, proporciona o aumento da massa, “engordando” a prega vocal. Geralmente essa condição das pregas vocais faz os cantores sentirem uma falsa sensação de controle e uma falsa sensação de potência. Isso pois, além de outros fatores, os ressonadores correspondentes para esse comportamento muscular das pregas vocais são maiores e, por isso, nos fazem sentir um som aparentemente “maior”. Tentando manter essa situação, os cantores acabam pensando que suas vozes serão controladas e projetadas a partir desse comportamento, o que não é nada além de um “suicídio vocal”. ATENÇÃO: Som forte não é sinônimo de força física. A relação não é proporcional. E isso pois à medida que vamos indo no sentido dos agudos, as pregas vocais vão perdendo massa e tornando-se menos espessas. Além disso, os ressonadores recrutados para esse comportamento muscular são menores e mais superiores. A sensação dos formantes muda. Ou seja, se buscarmos manter a mesma sensação de voz de peito durante toda uma canção, além de deixarmos ela monótona, vamos correr um risco sério de terminarmos com um certo cansaço vocal.
Falando sobre as sensações de ressonância (que são as sensações dos nossos formantes), é bom deixar bem claro que sensação de ressonância alta não quer dizer que você está em voz de cabeça. Você pode estar num mix muito bem equilibrado e com a sensação de ressonância mais alta que na voz de peito. O som, nesse caso, inclusive, possivelmente estará bem forte, mas com pouca sensação de “esforço físico”. Muitos cantores, por confundirem os termos, acabam sobrecarregando seus instrumentos por buscarem um som mais “pesado” e, por isso, acabam tentando manter suas vozes “no peito”. Essa “manipulação” vocal tende a nos manter presos em uma extensão reduzida e, ao contrário do que se pensa, com projeção prejudicada. As sensações livres de ressonância são resultados de um correto alinhamento entre nossas pregas vocais e nossas cavidades amplificadoras. Para cada “shape” de prega vocal, uma determinada cavidade será recrutada. E isso precisa ser entendido. A projeção, o brilho e o timbre rico da voz serão moldados por diversos fatores, mas, principalmente por uma correta aplicação das vogais.
Trabalhar com todas essas possibilidades é trabalhar a nossa dinâmica vocal. A voz precisa ser dinâmica em muitos aspectos. Talvez não haja, inclusive, instrumento tão completo em termos de possibilidades e dinâmicas como nosso próprio corpo produzindo a nossa voz. E é por isso que me encanto tanto com ela. E, por dinâmica vocal podemos entender trabalhar com inúmeras possibilidades. De peito, de cabeça, de belting, de mix, de speaking, não importa. O que importa é o resultado final servindo à música que você está cantando, em termos artísticos. Em termos técnicos, sua voz precisa ser eficiente (atendendo às demandas da canção e do estilo) e saudável. Portanto, não se sabote, tampouco à sua música.
Embora a voz de cabeça seja ótima pra atingir agudos, ela tbm tem boas desvantagens. Em certos momentos fica mto mais fácil semitonar usando esse registro. Ela não possui a potência da voz de peito e é uma voz soprosa. Pode ser uma voz até bonita, mas se a pessoa só usa voz de cabeça ela perde a oportunidade de usar seu verdadeiro potencial vocal.
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